Foto: Omar Freire/Imprensa MG
O executivo português Firmino Rocha afirmou em delação premiada assinada com o Ministério Público de Minas Gerais que a empresa em que trabalhava pagou propina ao ex-presidente do PSDB de Minas e aliado do senador Aécio Neves, Nárcio Rodrigues, que teve decretada prisão temporária, de cinco dias, nesta segunda-feira (30) na operação "Aequalis".
Segundo o delator, o suborno teve valor de cerca de R$ 1,5 milhão e parte dele foi destinado ao financiamento ilegal de campanhas eleitorais. Na época, Rodrigues ocupava o cargo de secretário estadual de Ciência e Tecnologia do governo do hoje senador Antonio Anastasia (PSDB).
De acordo com o executivo, a propina teve origem em contrato superfaturado de venda de equipamentos para o centro de pesquisa mineiro "Cidade das Águas", e parte foi remetida ao paraíso fiscal de Hong Kong em 2014.
Segundo a Controladoria-Geral de Minas Gerais, que investigou a obra em conjunto com o Ministério Público, os equipamentos foram comprados sem licitação e com superfaturamento de R$ 3,8 milhões. Apesar de terem sido pagos, os equipamentos não teriam sido entregues, gerando prejuízo de R$ 8 milhões ao governo do Estado.
Segundo a auditoria, a aquisição do material para o laboratório da "Cidade das Águas" foi montada de maneira que uma empresa do grupo Yser, a Biotev, da qual Firmino chegou a ser presidente, fosse a executora do projeto.
Posteriormente, a empresa teria sido a responsável pela organização da cotação de preços que teve como vencedora outra companhia do mesmo grupo, a SRN Comercial Importadora e Exportadora S/A, da qual Firmino também foi diretor.
Ambas são do português Bernardo Simões Moniz da Maia, membro de uma das famílias mais ricas de Portugal e dono do grupo Yser. Ele é considerado foragido pelas autoridades mineiras.
A operação prendeu também Neif Chala, ex-servidor da Secretaria de Ciência e Tecnologia, Alexandre Horta, engenheiro do Departamento de Obras Públicas, Luciano Lourenço, funcionário da CWP Engenharia, e o português Hugo Alexandre Murcho, diretor Yser e da Biotev.
Também foi preso temporariamente o empresário Maurílio Bretas, um dos sócios da CWP Engenharia, empresa que pertenceu a parentes de Anastasia até quatro meses antes de ele assumir o governo mineiro, em 2010.
Em abril, a Folha revelou que a companhia era investigada pela Controladoria por ser beneficiária de desvios de R$ 8,6 milhões do "Complexo das Águas". O órgão também apontou irregularidades no processo de licitação.
Um dos argumentos para desclassificar as quatro adversárias da CWP foi o de que elas não tinham técnico responsável com capacitação suficiente para a obra. Somente Waldemar Anastasia Polizzi, primo do senador, foi considerado apto para o trabalho.
Outro lado
O PSDB de Minas Gerais afirmou, por meio de assessoria de imprensa, que desconhece detalhes da operação Aequalis deflagrada na segunda (30) e que "se houver indícios de irregularidades, eles devem ser investigados pelos órgãos competentes". Também ressaltou que "havendo comprovação de crimes" é necessária punição.
Sobre a realização do "Complexo das Águas", a sigla informa que foi um projeto aprovado em 2007 pela Unesco, tendo as obras iniciadas em 2011, paralisadas em 2014 e retomadas este ano.
Quanto ao ex-deputado Nárcio Rodrigues, o partido reitera que ele "não exerceu nenhuma função de captação de recursos financeiros junto à direção estadual do PSDB em campanhas de 2014".
Contatado antes de sua prisão, o ex-deputado Nárcio Rodrigues afirmou à Folha que não foi beneficiário de propina e que não atuou na execução de obras ligadas ao projeto do "Complexo das Águas", mas somente em assuntos ligados à programas de educação, que eram vinculados à Secretaria de Ciência e Tecnologia.
Procurados desde o mês passado, o grupo Yser e Bernardo Ernesto Simões Moniz da Maia não responderam aos e-mails e contatos telefônicos feitos pela reportagem.
A defesa de Firmino Rocha informou que não iria se manifestar sobre o caso.
Em manifestações anteriores, Antonio Anastasia disse à reportagem que defende que "quaisquer denúncias sejam apuradas pelos órgãos competentes e julgadas na forma da lei".
Ele também afirmou que só tomou conhecimento sobre a investigação da Controladoria-Geral e do Ministério Público da obra iniciada na sua gestão em abril, quando a Folha publicou reportagem sobre o fato.
A assessoria de Aécio Neves não se manifestou.
Fonte: otempo.com.br