A senhora Marfisa Maria de Jesus, que é mais conhecida na região de São Mateus, como Dona Morfisa, certamente é uma das pessoas com mais idade no Brasil. Seus 116 anos são documentados com certidão de nascimento e carteira de identidade e, mesmo com essa idade, ela se sente bem, consegue realizar tarefas domésticas, como fazer comida e limpeza. Ela conta que era da época de respeito aos mais velhos, quando se pedia a benção e as pessoas exigiam que se tratasse os mais velhos da melhor forma possível. “Menino tinha que ter educação, senão mãe e pai achavam ruim. Era preciso responder ‘não senhor’ e ‘sim senhor’, ter fé e não ser malcriado.”
Dona Marfisa comenta que teve 12 filhos, segundo ela, criados com a graça de Deus, trabalhando nas funções mais variadas, como fazer cobertas de lã tecidas em tear, lençóis e lavar roupas. “Cada dia em uma casa e eu respeitava os patrões, tratava por senhor e senhora, perguntava sobre a qualidade do trabalho. Eu ralava, torcia a massa, torrava e fazia a farinha de mandioca. A patroa falava ‘tem hora que você faz as coisas sem eu explicar. Desse jeito estou satisfeita. E eu trabalhei dessa forma a vida toda.”
Sua vida hoje com 116 anos é acordar e passar o dia fazendo suas tarefas e lembrando-se do tempo que trabalhava muito. Ela diz que não tinha preguiça sobre o trabalho que deveria fazer e recomenda que as pessoas não devem ser paradas demais. Ela lembra que passou por dificuldades no tempo de frio e recebia doações para abrigar os filhos, recordando que ganhava bonecas para as filhas, aquelas que as crianças das patroas não queriam mais. “Aqui dentro de casa eu cuido de alguma coisa, da comida e da merenda, não sei se fica bom como antes.”
Dona Marfisa pensa que vai viver mais tempo, faz questão de não reclamar e não tem preguiça. “Eu não ando rápido, mas não fico quietinha.” Sobre a forma dos pais criarem seus filhos e como eles tratam seus pais, ela acha que ‘a criação hoje em dia devia ser conversada’. “Precisa tratar bem os mais velhos para não ser malcriado, tem de dobrar a língua e falar tudo certinho. Assim é bonitinho. Num instantinho você cresce sendo desse jeito. Sendo malcriado, não obedecer e não tratar as pessoas bem não deixa a gente crescer. Minas filhas foram educadas me tratando por senhora e perguntando o que deviam fazer.”