Você provavelmente já ouviu, fez isso ou mesmo foi aconselhado a fazer: após sofrer uma lesão aguda (entorse, pancada forte, tendinite…), deve aplicar gelo na área afetada. Novos protocolos de intervenção, no entanto, desaconselham essa prática como regra geral.
Parece contraintuitivo, pois o uso de gelo (crioterapia) causa uma diminuição na condução nervosa e vasoconstrição local (estreitamento dos vasos sanguíneos), o que alivia a dor no curto prazo e reduz a inflamação e o edema.
Então, por que é melhor não fazer isso? Para descobrir a resposta, vamos primeiro analisar o que é inflamação e se é do nosso interesse agir sobre ela.
Uma reação natural
A inflamação é um processo fisiológico normal do corpo que se recupera de uma lesão. Imediatamente após a lesão, os vasos sanguíneos se contraem para evitar a perda de sangue.
Poucos minutos depois que a ferida é tapada, o calibre e a permeabilidade desses vasos aumentam para permitir a entrada de substâncias e células imunes com efeitos inflamatórios. Esse é o momento para os neutrófilos, que são responsáveis pelo “trabalho de limpeza” da lesão.
O aumento da permeabilidade vascular, por sua vez, gera um aumento no volume de fluidos - o meio de transporte de todas essas substâncias - que chega à área.
Esse inchaço é conhecido como edema, e responde às necessidades fisiológicas de cura.
Quando o processo inflamatório está em seu auge, o acúmulo de substâncias produz uma série de sinais bioquímicos que iniciam a fase de proliferação ou cicatrização do tecido. Os mesmos processos que geraram a inflamação no estágio anterior agora liberam compostos como as lipoxinas, que têm grande poder anti-inflamatório.
Além disso, de acordo com estudos recentes, os neutrófilos que vieram “limpar” a área mudam seu modo de ação durante essa fase e também têm efeitos anti-inflamatórios e regenerativos.
Em outras palavras, para que todo o processo de cicatrização ocorra corretamente, a inflamação deve seguir seu curso fisiológico.
Fonte: G1